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Resenha Critica

 Autores:

SILAS DE JESUS SILVA MORAES
SAVIA FERRAZ SILVA MARTINS


ESPIRITISMO EM PINHEIRO




“A cultura é como uma lente através da qual o homem vê o mundo”.  
                                                                         (Ruth Benedict, livro O crisântemo e a espada)

                     No mundo existem muitas etnias e culturas. Se cada grupo cultural alcançasse todos os objetivos no âmbito político, principalmente num País liberal como por exemplo o Brasil, o mesmo seria um caos, cheio de leis contraditórias, umas confrontando as outras. Porque cada um obviamente defenderia suas convicções, por isso deve haver controle e freio sobre as intenções de todos eles para que a ordem seja estabelecida.
                Entretanto, não nos interessa aqui comentar sobre conquistas culturais na política, mas sim fazer uma breve análise e interpretação de uma “cultura religiosa” chamada Espiritismo. Ele é popular, conhecido e de certa forma ligado ao sobrenatural.
                     Portanto, baseando-nos nas análises feitas e em dois textos referentes à cultura—Cultura: Um Conceito Antropológico; Roque de Barros Laraia e a interpretação das culturas; Clifford Geertz—iremos adentrar um pouco nessa pequena parte do universo que é a cultura ou que pode assim ser considerado, sem deixar é claro, de enfatizar os traços de superioridade e privilégio que há nesse grupo religioso em relação aos demais, traços esses que não são incomuns nas outras formas de ver o mundo. E o nosso ponto de observação de um dos centros de atuação dessa religião será na cidade de Pinheiro-MA.
                     Bom... antes de passarmos para a fase dos comentários interpretativos, é bom conhecermos de onde começou essa corrente de pensamento religioso conhecido como espiritismo, como chegou no Brasil e em Pinheiro, nosso terreno de observação.  
ESPIRITISMO

                     Para começar a falar de espiritismo, vamos esclarecer que o termo foi usado pela primeira vez por Allan Kardec na obra o Livro dos Espíritos.
                     O espiritismo é uma doutrina progressista e aberta. É ciência, porque se trata de um conjunto organizado de conhecimentos relativos a certas categorias de fatos e fenômenos analisados, empiricamente catalogados e relatados por seus pesquisadores. Diz Kardec, “a Fé sólida é aquela que pode encarar a razão face a face”.
                     É filosofia, quando inserido no contexto filosófico tradicional, embora de cunho evolucionista e metafísico, pontua a necessidade do homem ir em busca do seu autoburilamento, estimulando-o a averiguação de respostas às questões magnas da humanidade: sua natureza, sua origem e destinação, seu papel perante a vida e o universo. Diz Kardec, “nascer, viver, morrer e renascer de novo, progredindo sempre, tal é a lei.
                     É religião, porque tem o dom de unir os povos em um ideal de fraternidade, preconizado por Jesus de Nazaré, permitindo dessa forma que o homem se encontre com o próprio Criador. Diz Kardec, “fora da caridade não há salvação”.

ALLAN KARDEC

                     Codificador e sistematizador da doutrina espírita. Nasceu em 3 de outubro de 1804 em Lyon, França, e morreu em 31 de marco de 1869 (68 anos) em paris, lle-de-france.
                     Pedagogo, professor gramático, tradutor, linguista, filósofo, educador, foi influente e notabilizou-se como codificador do espiritismo (neologismo por ele criado). Foi discípulo do reformador educacional Sohann Heinrich Pestalozzi e um dos pioneiros na pesquisa científica sobre fenômenos paranormais (mais notoriamente a mediunidade), assuntos antes que costumaram ser considerados inadequados para investigação do tipo.
                     Nascido numa antiga família de orientação católica com tradição na magistratura e na advocacia, desde cedo manifestou propensão para o estudo das ciências e da filosofia.
                     Fez seus estudos na escola de Pestalozzi, no castelo de yverdon, em yverdon les-bains, na Suíça (pais protestante), tornando-se um dos seus mais distintos discípulos e ativo propagador do método que tão grande influência teve na reforma do ensino na França e na Alemanha. Aos quatorze anos de idade já ensinava aos seus colegas menos adiantados, criando cursos gratuitos. Aos dezoito, bacharela-se em ciências e letras.
                     Concluídos os seus estudos, o jovem retornou ao seu país natal. Profundo conhecedor da língua alemã, traduzia para este idioma diferentes obras de educação e de moral, com destaque para as obras de François Fenelon, pelas quais manifestava particular atração. Conhecia a fundo os idiomas francês, alemão, inglês e holandês, além de dominar perfeitamente os idiomas italiano e espanhol.
                     Era membro de diversas sociedades acadêmicas, entre elas o Instituto Histórico de Paris e a Academia Real de Arras, esta última, em concurso promovido em 1831, premiu-lhe uma memória com o tema “Qual o sistema de estudo mais de harmonia com as necessidades da época?”.
                     Em 6 de fevereiro de 1832 desposou Amélia Gabrielle Boudet. Em 1824, retornou a Paris e publicou um plano para aperfeiçoamento do ensino público. Após o ano de 1834, passou a lecionar, publicando diversas obras sobre educação, e tornou-se membro da Real Academia de Ciências Naturais.

BRASIL E O ESPIRITISMO

                     Em meados da década de 1860, a cidade de Salvador conheceu uma explosão espírita de que não há paralelo no Brasil. As obras de Kardec, lidas em francês, eram discutidas apaixonadamente nas classes mais cultas. É assim que Ubiratan Machado coloca em seu livro Os Intelectuais e o Espiritismo, assim chegou ao nosso pais a doutrina espírita. E continua sendo apenas estudada pela corte e com privilegio dos que conheciam o idioma francês. Mas foi 1865 que oficializou-se o espiritismo com a fundação do 1° centro espírita de conhecimento público do país, sob a direção do Dr. Luiz Olímpio Teles Menezes, na cidade de Salvador, o grupo familiar do espiritismo. No ano seguinte, Dr. Menezes publicou sua tradução da Filosofia Espiritualista, uma seleção de trechos de O Livro dos Espíritos de Allan Kardec.






CENTRO ESPIRITA PINHEIRENSE

“Casa Paulo de Tarso”
Av pres. Eurico Dutra 314 centro CEP. 65. 200.000, Pinheiro-Ma

                     Oli de Castro (1912-1989) tinha um sonho ideal fundar em pinheiro, sua terra natal, uma obra assistencial que pudesse de alguma forma ajudar aquele povo sofrido do interior do nordeste e consequentemente do Maranhão. Por isso, Oli renunciou a sua promissora carreira militar pedindo para ser transferido para a reserva, pois só assim poderia realizar o seu ideal uma vez que naquela época tudo era difícil e precário nas cidadezinhas do interior.
                     Ao chegar em Pinheiro para fundar a casa de Paulo de Tarso em 01 de novembro de 1953, Oli deparou-se com imensurável obstáculo, os antagonistas da doutrina espírita - gente pouco esclarecida- não concordava com a livre escolha de crença e pensamento, por isso Oli de castro lutou contra calunias, ofensas, tentativa de morte e prisão. Foi levado a presença de governantes e chefe de polícia do estado do Maranhão, chegando até mesmo a ser expulso de sua terra natal com a tropa da polícia ameaçando-o sob a mira de suas baionetas e metralhadoras, Oli de Castro foi proibido de voltar a Pinheiro, como um criminoso foi exilado
                     Hoje se encontra erguido em Pinheiro o centro espírita pinheirense e a casa de Paulo de Tarso. É necessário que se diga que Oli de Castro contou com a cooperação de vários irmãos em crença como Babu, Benedito Padilha, São Cardoso Joaquim Lima, Tomas Durand e outros que o apoiaram e com ele sofreram.
                     Centros espiritas em pinheiro temos três: casa de Paulo de Tarso, localizado na avenida presidente Dutra, tem como fundador Oli de Castro. Centro Espirita João de Deus da costa localizado na praça São Benedito, fundado pela senhora Augusta Araújo. Centro Espirita Oli de Castro localizado no bairro da enseada, fundado por Raimundo Beckham (Babu).
                     O objetivo dos centros é promover um mundo justo e fazer coisas boas que Jesus ensinou. Ensinar que o estado da carne e transitório e que retornaremos a erraticidade, ou seja, o mundo espiritual. A nossa conduta de hoje é fruto do comportamento no passado; a nova vida de amanhã será conforme o procedimento no presente. Somos herdeiros dos próprios atos.
                     O centro espírita pinheirense Paulo de Tarso é uma instituição sem fins lucrativos e com o único objetivo de fazer a caridade e levar seus conhecimentos a todos que desejam obter respostas sobre as questões mais debatidas hoje em dia.
                     Hoje conta-se com um bom número de irmãos, que vem em busca de participar das reuniões espiritas para entendimento do meio em que vivemos, e aprimoramento de suas futuras encarnações. Nessas reuniões discute-se sobre assuntos da atualidade como fatalidades e etc. em busca de uma explicação por meio da doutrina espírita para tais acontecimentos, pois por meio da doutrina entende-se que tudo possui uma explicação seja ela nessa vida ou em uma vida após a vida.
                     Acredita-se na reencarnação, que significa a volta da alma ou espirito à vida corpórea, mas em outro corpo especialmente formado para ele e que nada tem de comum com o antigo. Baseiam-se no livro da Bíblia, onde Jesus afirmou a existência da encarnação, por meio de passagens como a de João (Capitulo 3, versículo de 1 a 12), onde encontramos a elucidativa palestra de Jesus com Nicodemos (doutor da lei judeu): “em verdade em verdade vos digo que ninguém pode ver o reino de Deus se não nascer de novo”. As reuniões acontecem todos os fins de semana, onde é o momento em que diversas pessoas se reúnem para o estudo não somente das doutrinas, mas também para a busca de contato com o mundo espiritual por meio dos médiuns. O espiritismo traz conhecimento de mundo paralelos criados por Deus para seus objetivos de crescimento e evolução. A doutrina em questão nos mostra o entendimento natural da vida faz com que paramos para refletir sobre a vida pós-morte.
                     Também nos revela o que Jesus Cristo quer para todos os seus filhos. O espiritismo não é buscar comunicações pessoais, É, no entanto um novo caminho para que todos se voltem a Deus com amor e caridade para com o próximo. O centro espírita, na verdade, é uma casa de oração e estudo que nos guia para uma vida de conhecimento e luz. Temos comunicações sim, no sentido de guiar desencarnados para o acolhimento em outros mundos. Muitos, no entanto quando encarnados não se dão conta de que deixaram a vida material, e ISSO motiva as comunicações com médiuns (pessoas de espíritos evoluídos, fruto de várias encarnações capacitadas para receber as coordenadas da divindade de cima e transmitir ao povo ainda em espirito de evolução) necessárias para este trabalho. Às vezes os espíritos evoluídos se fazem presentes para o ensinamento mais profundo, para os encarnados por meio de mensagens de luz. Pessoas sem uma doutrinação correta do espiritismo, o estudo da doutrina e constante e bem elaborado, seus participantes aprendem o real sentido da doutrina.
                     Os trabalhos nas casas espiritas ou centros servem para orientar e ensinar os seus participantes o princípio da doutrina, o estudo e o conhecimento e o princípio da evolução. Apesar da difusão e popularidade da doutrina, na cidade de Pinheiro ainda nota-se um certo preconceito em relação a ela, devido justamente à ignorância da população que ainda não procurou de fato a real compreensão da mesma.

INTERPRETANDO, REFLETINDO E CONCLUINDO.

                     De todo esse conteúdo, pesquisado em fontes confiáveis e acompanhado do depoimento de um integrante e participante dessa prática, pudemos observar que seu pensamento sobre como se relacionar com o mundo do além difere de outros, como o catolicismo, pentecostalismo etc. Acreditando em um “ressurgir”, em uma reencarnação, esses fiéis se dedicam a obedecer determinada doutrina que se baseia em alguns trechos bíblicos, favoráveis às suas interpretações da vida.
                     Segundo o trecho final, apesar de já ser bem conhecido e praticado, o espiritismo ainda sofre preconceito--palavra muito comum hoje em dia, nas disputas por hegemonia de determinados grupos--por parte da população ignorante. Nota-se claramente neste ponto o traço sugestivo de etnocentrismo que procurávamos. Para fixar, faz-se questão de repetir o trecho nesta página do trabalho:
                    “Apesar da difusão e popularidade da doutrina, na cidade de Pinheiro ainda nota-se um certo preconceito em relação a ela, devido justamente à ignorância da população que ainda não procurou de fato a real compreensão da mesma”.
                     Na verdade, se fôssemos destacar o máximo possível de traços etnocêntricos do texto, não bastaria este pequeno fragmento, mas o mais necessário e objetivo deve ser priorizado. Observa-se que houve uma forte aceitação das ideias do fundador do espiritismo Allan Kardec, quando chegou ao Brasil em Salvador da Bahia. Já em pinheiro houve uma rígida resistência, devido ao aspecto novo e distinto dessa prática em relação a já estabelecida. Mas por fim, se concretizou o desejo do Oli de Castro, o fundador do principal centro espírita pinheirense, de difundir essa doutrina pela região, que a propósito era sua terra natal.
                     Voltando ao trecho destacado, acabamos por nos lembrar do que já antes foi comentado. Há sim um aspecto da citação feita no início do trabalho de que “a cultura é como uma lente através da qual o homem vê o mundo”, quando observamos a expressão “ignorãncia” encontrada no fragmento, ou seja, se alguém se posicionar desfavoravelmente à essa doutrina, esse será tido como ignorante. Ora! Não há mal nenhum em difundir suas ideias e acreditar nelas, porém, classificar os que pensam de outra forma como ignorantes à questão engloba a todos os que não tem simpatia pelo espiritismo, mesmo que alguns de fato tenham um conceito formado a respeito.
                     Todavia, também, o “depoente” pode estar se referindo apenas àqueles que de fato nunca se deram ao trabalho de constatar se suas suposições e pontos de vista sobre isso realmente tem fundamento, ai sim se torna preconceito. De toda forma, é necessário compreender que os resultados de tais observações são relativos, as culturas, as formas de considerar as coisas de determinado grupo podem ter múltiplas interpretações, contudo, sempre é aconselhável especificar diminuindo assim as chances de mal entendido.
                     Em fim, tudo o que foi dito se resume na socialização da pessoa, a qual se submete a determinados padrões impostos ou ensinados. Assim tem-se a diversidade de culturas que conhecemos, independentemente de qual natureza sejam.







REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Depoente: Alana Maramaldo, membro do centro espírita a mais de 5 anos.

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